sexta-feira, 26 de outubro de 2012

OFICINA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E ROTEIROS TURÍSTICOS

Oficina vai discutir preservação, associativismo e turismo de base comunitária e sustentável

As inscrições para oficina "Educação Patrimonial e construção de roteiros turísticos" seguem até o próximo dia 29/10. Ministrada pelos acadêmicos de Turismo (UFS), vinculados ao projeto de extensão “Educação Patrimonial e Turismo Cultural em São Cristóvão: Ações de cidadania para a comunidade local e visitantes”, sob coordenação da Prof. Lilian Mesquita. As oficinas ocorrerão, no auditório do Museu Histórico de Sergipe, unidade da Secretaria de Estado da Cultura (SECULT), parceiro da ação, entre os dias 29 de outubro e terminam dia 1 de novembro. Com horários opcionais pela manhã das 08h às 13h e a noite das 17h às 22h.

Oportunidade única para se discutir cooperativismo, turismo de base comunitária e sustentável. A Associação Cultural Amigos do Museu Histórico de Sergipe (ACAMHS) orienta os agentes culturais de São Cristóvão a fazer essa oficina visando ações futuras de geração de renda e associativismo.

Interessados na oficina "Educação Patrimonial e elaboração de roteiros turísticos" deverão procurar Nayra ou Amanda na recepção do Museu Histórico de Sergipe, de terça a domingo, das 10 às 16 horas, ou fazer contato pelo telefone (79) 3261-1435 ou e-mail: museu.sergipe@cultura.se.gov.br 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

I Sarau "Poetas de São Cristóvão"

Manoel Ferreira será um dos poetas festejados
Criada no dia 28 de setembro, como parte da programação da VI Primavera dos Museus, a Associação Cultural Amigos do Museu Histórico de Sergipe (ACAMHS) fará uma exaltação aos poetas de São Cristóvão na quinta-feira, 25/10, às 20 horas, na Salão Horácio Hora daquela importante instituição. Para o Presidente Neverton Cruz, gestão 2012/2013, "a associação ampliará as ações do MHS na sociedade sergipana mas o primeiro passo é aproximar os agentes culturais locais, viabilizar cursos nas mais diversas linguagens artísticas e semear práticas de Turismo de Base Comunitária e Sustentável". 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Exposição sobre Cangaço será permanente

Volta Seca, ex-cangaceiro, lançou LP "Cantigas de Lampião,  em 1957

Olhar o tema do cangaço como fonte de inspiração das artes, e Lampião como genial artista (poeta, compositor, etc), fez da Exposição Temporária "Cangaço: por dentro do emborná e na ponta do punhá" um sucesso junto ao público visitante. Direção pretende transformá-la em exposição permanente e lançar módulo sobre Volta Seca, ex-cangaceiro.

Confira matéria da F5News sobre a Exposição Temporária "Cangaço: por dentro do emborná e na ponta do punhá". CLICK

terça-feira, 16 de outubro de 2012

MHS recebe selo TripAdvisor


Confira matéria exibida pela TV Atalaia sobre selo da TripAdvisor recebido pelo Museu Histórico de Sergipe. Programa Jornal do Estado 2ª edição, dia 16/10/20.

selo recebido pelo MHS.
Para saber mais CLICK!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

MHS dedica Roda de Leitura a Jorge Amado

Maria Gloria destacou poesia que Jorge Amado dedicou a Jenner Augusto

Uma roda de Leitura dedicada a Jorge Amado marcou a programação VI Primavera dos Museus, na tarde de 28 de setembro, no Museu Histórico de Sergipe. Artistas, acadêmicos e amigos do escritor homenageado celebraram com leituras e lembranças o centenário de seu nascimento (1912/2012).

Thiago Fragata, diretor do MHS, coordenou o evento. Ele lembrou a relação de Jorge Amado com a cidade de São Cristóvão, com o seu patrimônio e sua gente. Os contadores Rose Barbosa, Eliene Marcelo, Carlos Augusto Bráz, Maria Glória, Kleckstane Farias revezaram-se na leitura de obras memoráveis de Jorge Amado: Tenda dos Milagres, Capitães da Areia, Cacau, País do Carnaval, Suor.

Confira seleta de textos e imagens.

TRECHOS SELECIONADOS


CAPITÃES DA AREIA [VOLTA SECA]

Mas quem vai na rabada de um trem é Volta Seca. Uma tarde a polícia o pegou quando o mulato despojava uma carteira. Volta Seca tinha então dezesseis anos. Foi levado para a polícia, o surraram porque ele xingava todos, soldados e delegados com aquele desprezo que o sertanejo tem pela polícia. Ele não soltou um grito enquanto apanhou. Oito dias depois o puseram na rua, e ele saiu quase alegre, porque agora tinha uma missão na vida: matar soldados da polícia.

Passou uns dias no trapiche, o rosto sombrio, afogado em pensamentos. O sertão o chamava, a luta do cangaço o chamava. Um dia disse a Pedro Bala:

- Vou passar uns tempos com os Maloqueiros em Aracaju. Os Índios Maloqueiros eram os Capitães da Areia (...) Nunca fora um menino da cidade igual a Pedro Bala, a Boa-Vida, ao Gato. Fora sempre um dizendo meu padrim, imitando as vozes dos animais sertanejos. Antigamente ele e sua mãe tinham um pedaço de terra. Ela era comadre de Lampião, os coronéis respeitavam sua terra. Mas quando Lampião se internou pelo sertão de Pernambuco os coronéis ficaram com a terra da mãe da Volta Seca. Ela desceu para a cidade para pedir justiça. Morreu no caminho, Volta Seca continuou a caminhada com seu rosto sombrio. Muita coisa aprendeu na cidade, entre os Capitães da Areia. Aprendeu que não era só no sertão que os homens ricos eram ruins para os pobres. Na cidade, também. Aprendeu que as crianças pobres são desgraçadas em toda parte, que os ricos perseguem e mandam em toda parte. Sorriu por vezes, mas nunca deixou de odiar. 

Leitura de Thiago Fragata


CACAU [SÃO CRISTÓVÃO]

A cidade subia pelas ladeiras e parava lá em cima, bem junto ao imenso convento. Olhando do alto, via-se a fábrica, ao pé do monte pelo qual se enroscava a cidade como uma cobra de uma só cabeça inúmeros corpos. Talvez não fosse bela a velha São Cristóvão, ex-capital do Estado, mas era pitoresca, pejada de casas coloniais, um silêncio de fim de mundo, as igrejas e os conventos a abafarem a alegria das quinhentas operárias que fiavam na fábrica de tecidos.

Acho que meu pai montara a fábrica em São Cristóvão devido à decadência da cidade, à sua paz e ao seu sossego, triste cidade parada que devia apaixonar os seus olhos e o seu espírito cansado de paisagens e de aventuras.

Nós morávamos então num enorme e secular sobrado, ex-morada particular dos governadores, uma pesadíssima porta de entrada, as janelas irregulares, todo pintado de vermelho, grandes quartos, nos quais eu e Elza nos perdíamos durante o dia brincando de picula (...) Ao lado da nossa casa ficava o ex-palácio do governo, quase a cair, transformado em quartel onde alguns soldados habitavam, sujos e preguiçosos. Em frente, o orfanato, seis freiras e oitenta meninas, filhas de operários e pais ignorados. (...) As casas, todas antiquadas e atijoladas, estendiam-se pela praça do convento e equilibravam-se pelas ladeiras. 


Leitura de Carlos Augusto Bráz.



Eliene Marcelo leu trecho de País do Carnaval

PAÍS DO CARNAVAL [Violência contra mulher]

Paulo Rigger andava na rua, ao léu. Sentia-se um estranho na sua Pátria. Achava tudo diferente... Se aquilo acontecia no Rio, que seria na Bahia, para onde iria residir em companhia da sua velha mãe?... Poderia, conseguiria viver? E tinha uma grande nostalgia de Paris...

Teria que viver burguêsmente... Não teria mais camaradas intelectuais... Ficaria com o espírito obtuso... Talvez se casasse... Talvez fosse mesmo morar na fazenda... Que fim para ele, degenerado, viciado, doente da Civilização... Enfim...

Paulo Rigger parou em frente de uma casa de discos. Uma marcha bem cantada enchia o espaço com uma música estranha, nostálgica, cheia de um sentimento que Paulo não compreendia. A Marcha rugia:

Essa mulher há muito tempo me provoca...
Dá nela...
Dá nela...

- Isso deve ser a música brasileira – pensou Rigger. A grande música do Brasil. E ficou a escutar enlevado pela barbárie do ritmo. A alma do povo devia estar ali... E como era diferente da sua... Ele não bateria nunca numa mulher. A música bradava:
Dá nela...
Dá nela... 

Leitura de Eliene Marcelo.


POESIA DE JORGE AMADO DIANTE DOS QUADROS DE JENNER AUGUSTO

Para fazer um quadro assim tão belo
A receita, senhoras e senhores, vos ensino:

Alvas areias altas dunas casario antigo
O pássaro sofrê os retorcidos santos
A humildade, o orgulho, a dura consciência
O mistério das flores, do caule, da corola
O boi, o porco, a cabra, o vira-lata, o galo, a madrugada
O mar dos alagados, a fome milenar
Nordestina universal, a rútila esperança
A meninice, a tia, a noite sergipana
A brisa da Bahia, o patriarca, a puta
Fraternal, suave, doce, triste, alegre, maternal
A música do cego, o violão as cores desse céu
Dessa montanha, dessa pedra, desse chão
Desse mundo e dos olhos de Luíza
O riso dos meninos
A ausência dos meninos
O órfão indispensável, recolhido sofrimento
Em riso rebentado da infância oferecida.

Também é necessário, senhoras e senhores, ter talento
Coração sangrando, ser solidário, poço de bondade
Uns olhos fundos apertados, um choro não chorado
Ser cangaceiro e santo, ter sofrido e amado.
Como vêdes, senhoras e senhores, é muito simples
Pintar um quadro tão belo. Só é preciso
Ter vivido.

Leitura de Maria Gloria.

Kleckstane Farias compartilhou trecho de Suor

SUOR [PALHAÇO, lembranças...]

Não. Não foi um desses grandes circos que percorrem as capitais do mundo com jaulas, artistas internacionais, palhaços que falam várias línguas. Circos que possuem navios próprios e animais raros, girafas e hipopótamos. Nada disso. Fora um pequeno circo de feira cuja maior atração consistia num urso velho que se embriagava com cerveja. Circo que na Bahia se armava na Calçada, longe do centro da cidade. É verdade que se chamava de Grande Circo Europeu. Não passava, porém de um circozinho brasileiro, que percorria as cidades do interior, levando prospectos amarelos, que acusavam ruidosos sucessos no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Maceió e em Oeiras. Muitos dos assistentes pensavam que Oeiras era uma grande cidade da Europa.

No entanto, há dez anos que Laudelino vivia com saudades do circo. Desde aquele dia que, em Juazeiro, a companhia se dissolveu vendendo o urso e o pano para fazer o dinheiro das passagens, Laudelino entristeceu. Há dez anos, também, que morava no prédio. No seu quarto viam-se fotografias velhas, uma sujas, outras rotas, nas quais ele aparecia irreconhecível, vestido com uma bombacha verde, a cara caiada de branco, desenhos na testa. Naquela época ele era o palhaço Jujuba, encanto da criançada e dos habitantes das cidades perdidas no interior. Dizia graças, levava cambalhotas, arrastando sempre aquele bengalão que estava dependurado em frente à sua cama. Porém, o que mais lhe deixara saudades foram as representações. Tinha uma queda por aquilo e fazia invariavelmente o primeiro papel masculino. Quantos sucessos... Lembrava dos cartazes... Mal ele entrava em cena as palmas soavam. Na “Tomada da Bastilha” fizera a assistência em peso chorar emocionada. Era seu grande sucesso. Quando agarrava o conde pelo pescoço e gritava: Traidor! A plateia se levantava. Ia tão longe tudo isso... dez anos já... metido no prédio restava-lhe somente a alegria de contar as glórias passadas. E, desde a noite que recitou um monólogo numa festa que seu Fernandes ofereceu passou a ser apontado a dedo como o “artista”. As mulheres diziam:

- no quarto andar mora um artista. Seu Laudelino... Já trabalhou num circo.

E Laudelino, depois de contar aos homens no pé da escada as suas glórias, trancava-se no quarto, vestia a bombacha verde e declamava, repetia piadas velhíssimas, revia as plateias das cidadezinhas visitadas. Quando, de repente, voltava à realidade do quarto malcheiroso, chorava, chorava como chorava no dia em que a população de Oeiras o carregou em triunfo.

Leitura realizada por Kleckstane Farias.


Rose Barbosa citou Tenda dos Milagres


TENDA DOS MILAGRES [Pelourinho]

No amplo território do Pelourinho, homens e mulheres ensinam e estudam. Universidade vasta e vária se estende e ramifica no Tabuão, nas Portas do Carmo e em Santo Antônio Além-do-Carmo, na Baixa dos Sapateiros e nos mercados, no Maciel, na Lapinha, no Largo da Sé, no Tororó, na Barroquinha, nas Sete Portas e no Rio Vermelho, em todas as partes onde homens e mulheres trabalham os metais e as madeiras, utilizam ervas e raízes, misturam ritmos, passos e sangue; na mistura criaram uma cor e um som, imagem nova, original.

Aqui ressoam os atabaques, os berimbaus, os ganzás, os agogôs, os pandeiros, os adufes, os caxixis, as cabaças: Nesse território popular nasceram a música e a dança.

Ao lado da Igreja do Rosário dos Pretos, num primeiro andar com cinco janelas sobre o Largo do Pelourinho, mestre Budião instalara sua Escola de Capoeira Angola: os alunos vinham pelo fim da tarde e à noitinha, cansados do trabalho do dia, mas dispostos ao brinquedo. Os berimbaus comandam os golpes, variados e terríveis: meia-lua, rasteira, cabeçada, rabo-de-arraia, au de cambaleão, açoite, bananeira, galopante, martelo, escorão, chibata armada, cutilada, boca de siri, boca de calça, chapa de frente, chapa-de-costas e chapa-pé. Os rapazes jogam ao som dos berimbaus, na louca geografia dos toques: São Bento Grande, São Bento Pequeno, Santa Maria, Cavalaria, Amazonas, Angola, Angola Dobrada, Angola Pequena, Apanhe a Laranja no Chão Tico Tico, Iúna, Samongo e Cinco Salomão – e tem mais, óxente!, ora se tem: aqui nesse território a capoeira angola se enriqueceu e transformou: sem deixar de ser luta, foi balé.

A agilidade do Mestre Budião é inaudita: haverá galo tão destro, leve e imprevisto? Salta para os lados e para trás, jamais adversário algum conseguira tocá-lo. No recinto da Escola demonstraram valor e competência, todo o seu saber, os grandes mestres: Querido de Deus, Saveirista, Chico da Barra, Antônio Maré, Zacaria Grande, Piroca Peixoto, Sete Mortes, Bigode de Sêda, Pacífico do Rio Vermelho, Bom Cabelo, Vicente Pastinha, Doze Homens, Tiburcinho de Jaguaribe, Chico Me Dá, Nô da Empresa, e Barroquinha:

“Menino quem foi se mestre? Meu mestre foi Barroquinha Barba ele não tinha Metia o facão na policia e pairando tratava bem.”

Leitura realizada por Rose Barbosa.



BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 86ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.
AMADO, Jorge. O País do Carnaval - Cacau - Suor. São Paulo: Martins, SD.
AMADO, Jorge. Tenda dos Milagres.  43. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
FURRER, Bruno. Jenner. São Paulo: Gráficos Brunner Ltda, 1980.

MHS recebe selo de recomendação do site de viagens Tripadvisor

MHS recebeu selo de recomendação. Foto: Fabiana Costa/Secult

O Museu Histórico de Sergipe (MHS), unidade da Secretaria de Estado da Cultura (SECULT), recebeu o selo de recomendação do site TripAdvisor. O reconhecimento pelo trabalho prestado à preservação da história e da cultura do Estado foi atestado pelos próprios visitantes do museu, que opinaram através do site.

O selo do TripAdvisor é mais uma chancela que o MHS recebe pelo excelente serviço prestado. Concedido aos espaços que receberam mais recomendações positivas através do site, o selo atesta a satisfação dos turistas que tiveram a oportunidade de conhecer o museu, localizado no Centro Histórico de São Cristóvão.

É o reconhecimento do trabalho que estamos fazendo com o objetivo de sempre receber bem os nossos visitantes, tanto os turistas que vem de outros Estados quanto os estrangeiros, que hoje podem contar com o auxilio do nosso guia bilíngüe”, ressalta o diretor do MHS, Thiago Fragata.

O site TripAdvisor recebe mais de 60 milhões de visitantes por mês e conta com mais de 32 milhões de membros. A comunidade virtual tem reconhecimento internacional por reunir recomendações sobre hotéis, restaurantes e atrações turísticas do mundo todo.


sábado, 6 de outubro de 2012

Memórias do cangaço na pisada de Lampião

Grupo de Teatro e Xaxado "Na Pisada de Lampião". Foto: divulgação
 
 
 Jéssica da Silva Souza*
 
Localizado a 184 Km de Aracaju, Poço Redondo, município do sertão sergipano, carrega marcas muito fortes do cangaço em sua história. A morte de Lampião na Grota do Angico, a 28 de Julho de 1938, não pôs o cangaceiro e seu bando no esquecimento. Pelo contrário, trouxe diferentes formas de apropriação de sua memória pela população da região. O Grupo de Teatro e Xaxado Na Pisada de Lampião, criado em Julho de 1997 por Beto Patriota, Raimundo Cavalcante e Dionízio Cruz, surge como mais uma iniciativa em prol de manter vivas memórias do cangaço no município. Através do xaxado, dança que surge dentro do próprio cangaço, o grupo apresenta ao público um pouco das memórias passadas de pais para filhos ao longo do tempo.

Dança guerreira, o xaxado normalmente com estrofes improvisadas que falavam de situações do cotidiano da experiência do cangaço, geralmente carregava nas letras das músicas críticas à conjuntura social e política da época. No cangaço, estava ligada ao lazer, dançava-se em comemoração, por exemplo, à vitória em uma batalha contra uma volante. Sendo tipicamente masculina, pois no início não havia mulheres nos bandos, dançavam seguindo em fila indiana formando também figuras geométricas e colunas. Sempre armados, se divertiam geralmente ao som de algum instrumento musical ou somente ao das alpercatas de rabicho, junto com a marcação feita em seus rifles. O passo do xaxado, chamado de “pisada”, envolvia vários movimentos com os pés num rápido e deslizado sapateado.

Segundo Beto Patriota, um dos fundadores e atuais coordenadores do Grupo de Teatro e Xaxado Na Pisada de Lampião, eles buscam reproduzir a dança o mais próximo possível de como ela era na época do cangaço, mas também inovam e usam bastante a criatividade para criarem as coreografias. As músicas trazem em suas letras as mais variadas situações referentes ao cangaço ou tão simplesmente à vida do sertanejo, com sua religiosidade e crenças. Músicas bastante conhecidas como “Mulher Rendeira”, “Ave-Maria sertaneja” e “Cavalos do cão” compõem o repertório do grupo. E não somente isto, eles também se utilizam de encenações teatrais em suas apresentações. Cada um deles recebe o nome de alguns dos cangaceiros que pertenceram ao bando de Lampião, como por exemplo, Rogéria e Serginho que tem como personagens “Maria Bonita” e “Lampião”, e ainda Marcos, que representa o cangaceiro “Corisco”. Assim, a trupe monta cenas que geralmente divertem bastante o público pelo seu caráter cômico na representação dos “causos” contados sobre o bando de Lampião.

Através da dança, músicas e encenações, o grupo expressa a importância de Poço Redondo no cenário da história do cangaço. Isto permeia suas apresentações, onde buscam afirmar esse momento da História como parte de sua cultura. Assim, a memória do cangaço surge não apenas como lembranças, mas como um dos fundamentos da identidade dos moradores do município. Dentre os temas recorrentes, é possível destacar também a figura do sertanejo, mais especificamente do cangaceiro, como um homem valente, destemido, um homem que anda sempre armado para se proteger, e cuja valentia é motivo de honra e não de vergonha.

A figura da mulher cangaceira também é explorada pelo grupo, uma mulher que desafiava uma sociedade machista e conservadora. A cangaceira quebra o estereótipo da mulher comportada da época, mulher que não deveria pegar em armas e também nunca levantar a voz para ninguém. Outro tema abordado é a religiosidade. Os componentes entram em um momento de oração e se expressam no tocante a representar crenças do bando de Lampião. Há ainda a representação de festas, momentos de lazer, refeições e outros temas ligados ao cangaço.

Embora ainda haja uma grande disputa em torno das memórias do cangaço no tocante a figura de Lampião como herói ou bandido, o grupo teatral sertanejo está mais voltado para a apropriação dessas memórias como algo constitutivo de sua cultura. É inegável que Poço Redondo assumiu um lugar considerável no palco da história do cangaço. Na pisada de Lampião, os artistas locais afirmam isso através da música, da dança e do teatro, enfim, da arte.   


*Jéssica da Silva Souza é bolsista PET-História e graduanda em História pela UFS. O artigo integra as colaborações à coluna do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPQ/UFS). 
Fonte: Infonet

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Exposição sobre o cangaço segue até dia 31/10

Esculturas de Antônio Felix são destaque na exposição. Foto: Fabiana Costa/Secult

Continua em cartaz no Museu Histórico de Sergipe (MHS) a exposição ‘Cangaço: por dentro do emborná e na ponta do punhá’. O público terá até o dia 31 deste mês para conferir esta mostra que traz um outro lado da figura do Lampião. O objetivo da exposição é mostrar o legado artístico e estético deixado por ele com o fim do Cangaço.

A mostra reúne o acervo de José Augusto Garcez, que cedeu gentilmente embornais e punhais que pertenceram a cangaceiros, cordéis e trabalhos de xilogravura de Nivaldo Oliveira, além das esculturas de Antônio Félix.

Segundo o diretor do MHS, Thiago Fragata, a exposição tem atraído um bom público. “O turista do Sul quando vem para o Nordeste tem a curiosidade de conhecer a história do Cangaço e do Lampião. Por conta desse grande interesse pelo tema, estamos estudando a possibilidade de transformar essa exposição num espaço permanente”, destaca.

Fragata explica que na década de 80, o MHS contava com um espaço dedicado ao Cangaço, por isso o museu já conta com um acervo expressivo que poderá ficar à disposição do público. “A demanda que temos de informações sobre o Cangaço é muito grande, por isso a ideia de retomar esse espaço, para suprir essa carência”, explica o diretor do MHS.

Por enquanto, os interessados em conhecer um pouco mais sobre a vida de Lampião e suas influencias nas artes e na cultura popular nordestina tem somente até o próximo dia 31 de outubro. O horário de funcionamento do MHS é de terça a domingo, das 10h às 16h. Escolas e instituições interessadas em agendar uma visita poderão entrar em contato pelo número (79) 3261-1435.