sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Roda de Leitura Combate o Racismo



Vania Correia, Rose Barbosa, Denize Santiago, Neverton Cruz, Thiago Fragata e Jória Dias
 
O Museu Histórico de Sergipe dedicou o dia 25 de setembro ao evento VII Primavera dos Museus; com o tema “Museus, memória e cultura afro-brasileira” foi apresentada uma extensa programação. A roda de leitura “Combatendo o racismo” reuniu os contadores Jória Dias, Neverton Cruz, Kleckstane Farias, Rose Mary Barbosa, Vania Dias Correia e Denize Santiago, além dos poetas convidados, Luiz Melo e seu pai, Manoel Ferreira, e alunos da Escola do Lar Imaculada Conceição (ELIC) e do Centro Vocacional Tecnológico (CVT).

Diante dos olhos atentos do seleto público, o coordenador Thiago Fragata, fez a leitura de um trecho do discurso proferido por Martin Luther King (Washington, no dia 28 de agosto de 1963) falando do seu cinquentenário, do contexto e da importância para os avanços dos direitos civis dos negros norte-americanos. 

Cinquentenário do discurso de Martin Luther King foi lembrado
 

DISCURSO DE MARTIN LUTHER KING (trecho)
Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: “Consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são criados iguais.”
Eu tenho um sonho que um dia, nas montanhas rubras da Geórgia, os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes de donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia mesmo o estado do Mississippi, um estado desértico sufocado pelo calor da injustiça, e sufocado pelo calor da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia o estado do Alabama, com seus racistas cruéis, cujo governador cospe palavras de “interposição” e “anulação”, um dia bem lá no Alabama meninos negros e meninas negras possam dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje.

(confira na integra)

Martin Luther King (1929/1968)

Na sequencia, Vania Dias Correia (SUBPAC) fez leitura da poesia predileta do líder Nelson Mandela, de autoria de William Ernest Henley (1875). Antes foi destacado a importância do texto poético na resistência do líder sul-africano ao sofrimento da prisão determinada pelo regime do Apartheid.

INVICTUS
William Ernest Henley

Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Agradeço aos deuses que existem
por minha alma indomável
 
Sob as garras cruéis das circunstâncias
eu não tremo e nem me desespero
Sob os duros golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas continua erguida
 
Mais além deste lugar de lágrimas e ira,
Jazem os horrores da sombra.
Mas a ameaça dos anos,
Me encontra e me encontrará, sem medo.
 
Não importa quão estreito o portão
Quão repleta de castigo a sentença,
Eu sou o senhor de meu destino
Eu sou o capitão de minha alma.

Nelson Mandela
Denize Santiago declamou poesia de João Sapateiro
Denize Santiago recitou poesia Convocação (1967), de João Sapateiro, que faz alusão ao assassinato de Patrice Lumumba, lider do Congo, pelo exército do ditador Tchombe.


CONVOCAÇÃO
João Sapateio

Juventude congolesa,
não dê tréguas ao vilão,
porque com grande torpeza
mataram o pai da nação!

Celerados mercenários
ganhando gordos salários,
Estraçalharam crianças
sem ter dó nem compaixão!

Não permita que Tchombe
Mate tanto e tanto zombe;
um esforço conjugado
tem significação.

Esperamos que Lumumba
tão vilmente trucidado
não tenha em vão lutado,
nem tenha tombado em vão!

Patrice Lumumba (1925/1961)
 
Rose Barbosa leu poesia Luiz Melo. poeta convidado
A contadora Rose Mary Barbosa (SUBPAC) ficou emocionada com a presença de Luiz Melo, autor do texto poético cedido para ela interpretar, e fez marcante leitura que encantou a todos.

COTIDIANO DE NEGRO
Luiz Melo

Olho o mundo com o meu olho escuro
e não me falta consciência
a cor da minha pele
negra afro-latina
atrai raios raiva preconceitos
e motiva a criação
de distâncias e ausências.

Rédeas
regras
impedimentos
cotidiano de negro.

Rédeas curtas para o negro
como para cavalo
regras cultas para o negro
que não pode apreendê-las
se a aprendizagem é vedada
para herdeiro de senzala.

Rédeas
regras
impedimentos
cotidiano de negro.

Cortar as rédeas
mudar as regras
vencer impedimentos
cotidiano de negro.

Poeta Luiz Melo falou da sua obra literária. Foto: Marcelo Ferreira


Em seguida Neverton Cruz falou do trabalho poético de José Carlos Limeira, antes da leitura da poesia selecionada.

Neverton Cruz recita poesia de José Carlos Limeira

PARA DOMINGOS JORGE VELHO
José Carlos Limeira

DOMINGOS, bem que você poderia
Ter sido menos canalha!
Está certo que eras um filho da Coroa,
Súdito leal,
E os negros de Palmares...
Ora, negro é negro.

Jorge meu caro
Entendo que estivesses vendo seu lado,
Ouro, carne-seca, farinha, eram bem pagos

VELHO, o que me dói é o fato de teres com
alguns milhares
De porcos dizimado um sonho
Justo de Liberdade.
E ainda por cima voltaste com
Três mil orelhas de negro,
TRÊS MIL!
Ontem sentir um tremendo nojo
Quando tive como herói no livro
De História do meu filho.
Mas foi no fim muito bom
Porque veio de novo a vontade
De reescrever tudo
E agora sem heróis como você
Que seriam o máximo, depois de revistos,
Assassinos, e bem baratos.
Atenciosamente,
UM NEGRO

Kleckstane Farias recitou poesia de Alex Santos
 
A contadora Kleckstane Farias (Casa do IPHAN) realizou a leitura da poesia “Chega de Racismo”, de Alex Santos.

CHEGA DE RACISMO
Alex Santos
De história mal contada
Chega de hipocrisia
De mentira esfarrapada
Esse preconceito infeliz
Que por aí diz
Que negro não vale nada.
O negro também precisa
Ser privilegiado
Chega de arrogância
Branco tenha cuidado
Com o preconceito em alta
Pois quem muito se exalta
É sempre humilhado.
Preto, branco e mulato
Vamos nos unir
O preconceito é horrível
E não é para existir
Já que todos somos irmãos
Essa grande nação
Espalhada por aí.

A consciência negra
Quer exatamente
Provar que somos iguais
E não diferentes
São lutas populares
Como as de Zumbi dos Palmares
Que morreu pela sua gente.

É preciso desde já
Com amor todo gentil
Acabar com o preconceito
E ver em nosso Brasil
O negro sorrindo tanto
Como a Daiane dos Santos,
Pelé e Gilberto Gil.

Jória Dias falou da importância da obra de Solano Trindade
 
A contadora Jória Dias leu a poesia emblemática de Solano Trindade.

SOU NEGRO
Solano Trindade

Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh,alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Luanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh,alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação.


Poesia de Éle Semog foi declamada

Nas considerações finais, o coordenador da II Roda de Leitura do Museu Histórico de Sergipe, Thiago Fragata, leu poesia de Éle Semog.


PONTO HISTÓRICO
Éle Semog

Não é que eu
seja racista...
mas existem certas
coisas
Que só os negros
entendem.
Existem um tipo de amor
que só os Negros
possuem,
existe uma marca no
peito,
que só nos negros
se vê,
existem um sol
cansativo
que só os negros
resistem.
Não é que eu
seja racista...
Mas existe uma
História
que só os negros
sabem contar.

CONVIDADOS

Rose Nascimento parabenizou trabalho dos contadores

Rose Nascimento, coordenadora do projeto Roda de Leituras, da Biblioteca Pública Epifanio Dória, prestigiou a II Roda de Leitura do Museu Histórico de Sergipe. Ela falou da satisfação em participar do evento, parabenizou pela metodologia e seleção de trabalhos poéticos dentro do tema.
 
Luiz Melo recitou novos trabalhos. Foto: Marcelo Ferreira

Visivelmente emocionado, o poeta e cordelista Luiz Melo, que é natural de São Cristóvão, filho de outro poeta, Manoel Ferreira, falou da sua poesia combativa destacada nos livros Negro (1980) e Pela Porta da Frente (1989) e dos seus trabalhos musicados. Entre livros e cordéis ele informou que já publicou cerca de 30 títulos, alguns retratando sua inesquecível terra natal.

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